sexta-feira, 24 de agosto de 2007

MINISTRO EROS GRAU COMENTA EM VOTO, O PAPEL DA IMPRENSA E A INDEPENDÊNCIA DO JUIZ.

Vale a pena ler o voto do Exmo. Ministro:


Tenho reiteradamente afirmado, inclusive nesta Corte, em votos anteriores, o que aprendi com o jusfilósofo argentino Enrique Mari: o discurso da ordem abrange o lugar da racionalidade --- a lei --- e o lugar do imaginário social como controle da disciplina das condutas humanas e da sua sujeição ao poder.

A racionalidade, veiculada pelo direito positivo, direito posto pelo Estado, pretende dominar não apenas os determinismos econômicos, mas também os arroubos emocionais da sociedade, inúmeras vezes insuflados pela mídia. Afirmei-o há alguns anos, em artigo que escrevemos, o Professor Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo e eu, para ser publicado na revista Teoria Política, dirigida por Norberto Bobbio. Condenam-se pessoas mesmo antes da apuração de fatos.

Nunca me detive em indagações a respeito das causas dos linchamentos consumados em um como que tribunal erigido sobre a premissa de que todos são culpados até prova em contrário. Talvez seja assim porque muitos sentem necessidade de punir a si próprios por serem o que são.

A imprensa livre é por certo indispensável à plena realização da democracia. Por isso ela há de ser necessariamente imune à censura. Para que possa esclarecer a sociedade, a quem deve servir, mesmo porque o titular da imunidade à censura é povo, não o proprietário do veículo. A alusão que aqui faço a determinados desvios, bem determinados, evidentemente não pode ser tido como desconsideração ou menosprezo, de minha parte, do papel fundamental desempenhado pela imprensa na democracia. Reporto-me a desvios cuja substancialidade não pode ser negada.

Mas não me cabe tratar dessa patologia na formulação do nosso imaginário. Aqui devo cumprir o meu dever, preservando minha independência, expressão de atitude firme e serena em face de influências provenientes do sistema social e do governo. Independência que permite ao juiz tomar não apenas decisões contrárias a interesses do governo --- quando o exijam a Constituição e a lei --- mas também impopulares, que a imprensa e a opinião pública não gostariam que fossem adotadas.

A questão da legitimidade do exercício da função jurisdicional envolve a consideração daqueles dois planos, o da racionalidade da lei e o do imaginário social, cabendo sim ao magistrado, no Estado de direito, considerar as manifestações desse imaginário, sem, contudo, permitir que a ética da legalidade seja tragada pela emoção coletiva, que pode conduzir não apenas aos linchamentos, mas à indiferença face ao desprezo autoritário pelos chamados direitos fundamentais. Para isto existem os princípios e as regras jurídicas, para assegurar que o devido processo legal seja observado também quando o reclame quem não mereça a nossa simpatia.

A sociedade e mesmo a imprensa não o sabem, mas o magistrado independente é autêntico defensor de ambos. É mercê da prudência do magistrado independente que não resultam tecidas plenamente, por elas mesmas, as cordas que as enforcarão, as elites e a própria imprensa.




Boa noite!

3 comentários:

Unknown disse...

Há um evidente posicionamento da imprensa, de oposição ao atual governo. Isso se manifesta não apenas pelo que é escrito, mas pelo que se deixa de escrever. Aos leitores cumpre a tarefa de garimpar notícias importantes que são convenientemente camufladas como ligeiras menções ou notas. Essa escolha do que deve ou não ser notícia é manipulação da informação, empregada contra alguém e, por conseguinte, a favor de outrém. Isso contraria o conceito da liberdade de imprensa, que se atribui no caso como bandeira, palavra de ordem, última trincheira. A liberdade de imprensa deve proteger a verdadeira informação, não para o bem de quem a redige, mas de quem a lê. A imprensa não é dona da verdade, mas demonstra ter o poder de distorcê-la conforme sua conveniência. Quando faz isso, compromente justamente o princípio que mais julga defender: o de sua própria liberdade.

É tão complicado assim, senhor ministro, lidar com a imprensa livre? Essa semana vimos a frase: "[Os jornalistas] pensam que por falar na TV têm o dom da verdade" (quem adivinhar a autoria, ganha uma barra de chocolate!). Que o presidente Lula tem raiva da imprensa, é fato. Mas, que a imprensa detêm a verdade (...) bem, isso não pode ser afirmado. O que pode-se dizer é que ela possui o poder de manipula-la. E tenta usar de forma mais inteligente do que o presidente. Ou, pelo menos, mais evasiva, enfática e martelante!

O fato é que o escarcéu da mídia em cima de alguma pessoa, não é de toda má como apresentada pelo ministro. Deseja-se que seja mais um grito, ou uma denúncia nesse país que não tem atitudes próativas e, muito menos reparativas. A sua filosofia foi deveras muito bonita, as pessoas que "estão sentindo necessidade de se punir" podem guardar as armas, as cordas e os comprimidos de tylenol e procurar um psiquiatra, porque não há motivos para pânico! Mas, eu não sei não, ministro Eros, mas o senhor não se decidiu ainda sobre o papel dela e me deixou confusa...vamos tentar o seguinte: o presidente fecha os princiais veículos de comunicação, abre um canal verde e amarelo (não se esqueça de tocar o hino 3 vezes por dia!), e daí a sociedade poderá enfim saber o que nunca foi prática: que vocês estão do nosso lado! (ihhh que antipática!)

(No momento, escuto ElvisPresley com Love me Tender!)

Anônimo disse...

Mas que enquete difícil essa viu?
Ditador republicano, ditador democrata, muçulmano fundamentalista...

O primeiro acha que tem um rei na barriga, utiliza seu povo para dizimar os outros povos, tem parceria com o terceiro e é odiado pelo segundo (por quem não é?).
O segundo acha que o rei da barriga dele é vítima e revolucionário do rei da barriga do primeiro, odeia o primeiro, e influencia nosso amável Chefe
O terceiro diz odiar o primeiro, e seu povo em geral. Mas, foi aluno dele, e explode prédios de vez em quando, reaparecendo sempre que o primeiro está em desvantagem, já ameaçou o segundo (a troco de quê?) e não definiu se é saudita,americano ou idiota (ou os dois, quem sabe?), além de ter destruído os sonhos do povo afegão e roubado sua liberdade, com o porco governo talibã que merecia o inferno mais quente e fétido.

Poxa...facilita ae, meu amigo! =)

Anônimo disse...

"Ainda que em minha alma eu esteja estéril, essa situação não altera, nem anula as promessas de Deus para mim"

mesmo que a solidão não faça parte de quem somos, ela existe. talvez se não escrevo sobre flores, não é porque faltam flores no caminho...se escrevo sobre a angustia, não é que eu seja assim. Talvez os dias têm sido de crescimento...talvez eu esteja saindo do inverno...

não sei se é melhor escrever sobre o que se passa, ou deixar de escrever!

Beijos pra você!
E um excelente final de semana!
=)