quinta-feira, 27 de setembro de 2007

QUEM MATOU TAÍS?*

Lá para os idos de 1990, Renan Calheiros era um fiel escudeiro de Fernando Collor. Lembro que ele chamava atenção pelo cabelo sempre despenteado. Era uma figura estranha, vivendo na sombra do poder.
Foi eleito senador pelo estado de Alagoas em 1994 e reeleito em 2002. Quando do impeachment, fazia parte da "tropa de choque" que defendia Collor.

Collor se foi, mas Renan ficou. E aprendeu como poucos a navegar no mundo da política.

Foi ministro da Justiça no governo de Fernando Henrique Cardoso, ocasião em que presidiu a XI Conferência dos Ministros da Justiça dos Países Ibero-Americanos, e pouco depois a reunião dos ministros do Interior do Mercosul, Bolívia e Chile.

Foi também presidente do Conselho Nacional de Trânsito (Contran); do Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda); do Conselho de Defesa dos Direitos da
Pessoa Humana (CDDPH) e do Conselho Nacional de Segurança Pública (Conasp).

Em 2002, foi um dos mentores do Estatuto do Desarmamento. Chegou a Presidente do Senado Federal em 2005 e foi reeleito em 2007.

O cabelo despenteado desapareceu, a roupa melhorou, o patrimônio aumentou. E ele acabou traçando aquela tetéia que era repórter da Rede Globo. O resto já sabemos. O escudeiro transforma-se na figura central da política brasileira durante o primeiro semestre de 2007.

Surgem denúncias em cima de denúncias. Mas o cara não cai. Resiste bravamente, de tal forma que começamos a desconfiar que ele tem mais do que inocência.

Ele sabe das coisas. Ou melhor, ele sabe de coisas. Sabe tanto que pode ameaçar: - Se cair, levo um monte junto.

Esse é o risco que corre quem tem escudeiro. O escudeiro conhece as manias do príncipe, as fraquezas do príncipe, as sacanagens do príncipe. E seu conhecimento pode destruir o príncipe. Para livrar-se dele o príncipe tem que mandar
matá-lo.

Ou aceitar a chantagem.

O que assistimos nos últimos meses talvez seja um dos maiores escândalos de chantagem pública "destepaíz". Nunca antes um senador teve em suas mãos tanto poder, tanto conhecimento para causar medo.

Veja só: provoca o afastamento de Fernando Collor, que se licencia de seu mandato reconquistado depois de cumprir a pena pelo impeachment. Collor não pode votar contra seu ex-escudeiro.

Provoca a saída do país do Presidente Lula, que faz teatro do outro lado do mundo.

Destrói a carreira de Aloísio Mercadante, que mais uma vez tenta explicar o inexplicável, justificar o injustificável.

Expõe a cara-de-pau de um Romero Jucá, de um Epitáfio Cafeteira.

Deixa explícito que a mídia pode muito, mas não pode tudo.

Mancha definitivamente a imagem do Senado. É poder demais para um senador só, o que nos leva a perguntar: o que é que Renan sabe?

Eu posso imaginar. Sabe de outros senadores e deputados que usam dos mesmos expedientes que ele usou para benefício próprio. Sabe tudinho do mensalão. Sabe das negociatas para compra de votos, para mudança de legenda, para proteção de empresas devedoras frente ao fisco.

Sabe das doações de bancos e grandes empresas. Sabe de concessões de rádio e televisão. Sabe quem come quem.

Sabe dos propinodutos variados (aliás, quando é que uma CPI vai dedicar-se a esmiuçar os contratos da área de informática no governo?).

Deve saber dos acordos envolvendo as Farcs. Chavez. Fidel Castro.

Sabe de muitos outros filhos fora do casamento. Talvez Renan saiba quem matou Celso Daniel e o Toninho do PT.

Deve saber sobre os bastidores das privatizações. Conhece alguns – ou muitos – podres envolvendo as grandes estatais.

Sabe do Kia, do Boris e do Corinthians...

Renan tem o poder supremo: informação. Ele manda em quem quiser. Ele dita regras, exige apoio e faz tremer.

Renan pode tudo. E sabe que pode. Daí aquela segurança, aquela arrogância, aquele sorrisinho, aquele "abisolutamente", aquela certeza, aqueles abraços e apertos de mão inexplicáveis. Renan é o cara.

Quer saber? Eu acho que Renan sabe até quem matou a Taís.

E nós, que pensamos que sabemos das coisas e na verdade sabemos de nada? Vamos seguir a vida, bovinamente resignados e obedecendo ao supremo mandamento do novo Brasil:– Cale a boca. E compre.

Será que o Renan sabe até quando?


*Este artigo é de autoria de Luciano Pires (http://www.lucianopires.com.br/) e está liberado para utilização em qualquer meio, contanto que seja citado o autor e não haja alteração em seu conteúdo.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

FAÇAM SUAS APOSTAS... O BOLÃO CHEGOU!

Estou quase um mês sem escrever. Quando perguntado sobre o jejum, penso, penso, penso e logo respondo que me faltam boas idéias para escrever. Nestas tardes de domingo, onde não se espera mais que uma modorra e uns jogos do Campeonato Brasileiro para dar uma animadinha neste clima desértico, meu silêncio produtivo foi interrompido pelo barulho do interfone. Levantei-me com certo desanimo, deixei a revista Consulex de lado (Yes, a culpa que gritava aos meus ouvidos, me compelia a ler algo um pouco mais inteligente...), abaixei o volume da TV e respondi: “Oi.”

Uma voz jovial e animada respondeu do outro lado: “Oi!!!”

Duas coisas a observar: 1) Como alguém podia estar tão animado quando estava em pleno sol das 3h com umidade do ar à 12%??? 2) Em minha cabeça passaram um turbilhão de palpites sobre a identidade do rapaz: ABV, ABA, ABC, LBV, Jovens Livres, Associação Ágape, Testemunhas de Jeová, Hospital do Câncer, Disque gás, o homem do alho, o garoto que vende desinfetante para ajudar na recuperação de aidéticos, o vizinho do primeiro andar que esqueceu sua chave, os filhos do reverendo Moon, os Correios, o meu primo, a divulgação do circo, o papai Noel, e etc...

Repliquei enquanto espiava a jogada de perigo do Palmeiras: “Sim?” A voz desconhecida prolixou (neologismos em alta...) e reperguntou: “Tudo bom?” – e minha paciência se esvaindo bufou: “Tuuudoooo”.

“Quer comprar o bolão???” perguntou. Naquela hora, não sabia se eu ria ou se respondia. Só podia ser gozação! Três horas da tarde de domingo e alguém liga em meu apartamento para perguntar se queria comprar um bolão. Com um humor melhor e um riso entremeado perguntei: “Bolão do quê?”

A resposta do rapaz me fez sentir um burro por alguns milésimos de segundos, me fez sentir um estranho, um alienígena, um desinformado. A segurança que havia sobre a voz daquele interlocutor parecia tão grande que ele me esnobara! Foi tamanha! Ao ponto de me questionar qual era aquela verdade universal que eu desconhecia, e meio que antevi ele me dando um “Dãããããããããããããããrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr” que fazíamos para o burro da sala no primário!

Eu podia ver a cena do rapaz enchendo a boca e dizendo com um orgulho napoleônico: “O bolão de quem matou a Taís!!!” Quando eu escutei isso um novo turbilhão passou na minha cabeça: Pegadinha do Faustão, Pegadinha do João Kléber, Just Laughs, Punk’d, pegadinha do Mussão, trote dos desocupados, amigo vagabundo querendo me zoar, Câmera escondida, pegadinha do Sérgio Malandro e outras porcarias mais...

Meio assustado com esse choque, esse balde de gelo nessa sauna vespertina, um jab de direita na minha cara, uma surpresa. Meio atordoado e com os olhos arregalados respondi: “Hããããaannnn, quem matou a Taís?! Ahhhh, não quero não!” e a voz ainda respondeu: “Então tá! Falou!”

Coloquei o inter
fone no gancho, voltei para o sofá, vi o Valdivia firular (Yes! Nós temos neologismos!) enquanto flutuava em meus próprios pensamentos. Durante alguns minutos pensei em tudo que acabara de ocorrer: Renan Calheiros absolvido, CPMF aprovada em primeiro turno, a índia que foi achada morta no meio do mato, as acusações sobre José Dirceu, o caso MSI-Corinthians, a lei de improbidade fiscal, as declarações lamentáveis do Presidente da República, o vôo rumo à morte em Congonhas, a violência urbana, o tráfico controlado de dentro dos presídios, o fenômeno ditatorial que preocupa a democracia dos países latinos-americanos, o aumento da carga tributário, a crise aérea, a crise na saúde, a crise na educação, a crise na segurança, o país em crise, e outros problemas a que somos submetidos.

Me supreendeu também a tranqüilidade com que o rapaz se despediu, como se o mundo se resumisse a uma novela das oito. Como se vivêssemos simplesmente aquilo! Ora, o presidente do Senado acaba de ser absolvido e nos preocupamos muito mais com o assassino da Taís? Ora, e quanto aos assassinos da democracia, da moralidade, da honestidade, da boa-fé, das instituições democráticas do nosso país!

Entanto, faço um novo bolão. Ganha quem acertar! Do your bet! Quem será o nosso próximo Presidente? Será Bebel? Será Olavo? Será a falecida Tais? Será o Lula (em seus planos chauvinistas de re-reeleger)? Será Dirceu? Será Renan??? Apostem, mas espero que não ganhem.... pelo menos não com estes nomes.



Boa noite!


OBS: Em vista disso, retiro com ressalvas o que disse no último comentário no Letras &Flores!

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

O ASPECTO FILOSÓFICO DO ZERO

Hoje fui perguntado sobre uma questão matemática. Veja bem.... eu faço Direito e em decorrência desta letargia de minha habilidade matématica, tenho tido dificuldade até mesmo em contas de padaria. Veja só a questão: "Pq 0 (zero) não é neutro e é par se eu não posso dividi-lo??"

Bom...nem me atentei se a parte assertiva da questão estava certa, me adiantei a responder:
"Porque sendo ele a representação matemática do niilismo, entende-se logo que é a abstração representativa da coletividade numérica, uma vez que não representa um número, mas uma ficção para representar a própria inexistência de quantidade. Apesar de não ser uma quantidade palpável, ele é o parâmetro para a lógica numérica que, tomando-o como ponto de partida, os algarismos se expandem para a bilateralidade contraposta entre os conceitos de positivação e negativação.
Desta forma, ele sempre está espargido dentre a universalidade numérica, representando uma parte ficcional e transcendental de um limiar entre o positivo e o negativo, sendo então uma parte do todo e o todo é sempre divisível segundo o pensamento filosófico clássico.
Logo, o zero limiar transcendente e ficcional é também divisível em sua essência por razões de verticalidade deste indivíduo com o sistema numérico que participa."


Matematicamente seria um "zero", mas a persuasão foi boa, não foi?!


Boa noite!

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

O CONTO



Daí-me um segredo
que lhe conto um conto,
de histórias inacabadas e
seres fantásticos.

Quem revela um segredo
faz confidências de si.
fragmentos do “eu”
espalhados pelo chão.

Quem de si muito diz
acaba não gostando
do final da história
com sua nudez exposta.

Ir-me-ei fechar?
Em uma masmorra
Para o mundo?
Para a vida?

Guardo-me dos erros
meus, seus e alheios.
De bocas que contam
contos de minha nudez.

Boa noite!